O Sol ainda está nascendo quando uma mão esquerda negra que começa a enrugar-se abre um dos armários do vestiário de grandes palcos do basquete mundial. Num ritual que se repete há muito tempo, ele coloca uma faixa tensora no joelho esquerdo antes de amarrar os tênis e principalmente, antes de lembrar de todos os jornais e revistas que há um ano colocavam como certo o fim de sua carreira, ele termina com os cadarços, levanta a cabeça e percebe a ironia da situação : depois de tantos anos encarando o Sol como o simbolo de sua derrota, deixando claro que enquanto os outros conquistavam a noite, ele se resumia a treinar sozinho no dia, hoje o Sol é a sua principal esperança, este é um Sol diferente, é o Sol de Phoenix.
A cena de Michael Redd arremessando sozinho no U.S. Airways Center vazio é uma imagem tão estranha que nos deixa em dúvida se aquele canhoto de 1,98m é realmente a mesma pessoa que nós vimos jogar há poucos anos atrás. A cada cesta convertida em seu treino individual Redd parece paralisar por um instante, como se esperasse pelos gritos ensandecidos da torcida ao qual ele está tão acostumado, a torcida não grita, ele continua seu treino com um gosto amargo na boca de quem disputou títulos por todos os lugares que passou (seleção, faculdade, time..) e que agora está isolado e desvalorizado.
A queda de Redd - que teve seu ponto crucial na contusão de 2010 – é uma perda que transcende os uniformes e símbolos, Michael Redd é um patrimônio do basquete, e isso se deve não pela seu arremesso mortal, sua capacidade de jogar isolado ou seu vasto arsenal ofensivo, o ala de Ohio é, antes de tudo, um apaixonado.
No ultimo jogo entre Suns e Bucks da temporada anterior Redd, até então no time adversário, procurou Grant Hill nos vestiários para saber como foi sua experiência com a equipe médica de Phoenix, o ala do Bucks disse que Hill o convencera depois da brincadeira em que disse que com o Suns ele “recuperou as pernas” . Então Redd decidiu fazer um treino com a equipe do Arizona, com a intenção de se juntar ao elenco, fontes indicam que ao negociar o contrato com o Lon Babby, Michael soltou a seguinte frase “Cara, eu sou milionário, eu só quero jogar e ganhar.”
Esta frase define o que e quem é Michael Redd : Após um contrato de 93 milhões com o Milwakee Bucks, Redd tem dinheiro suficiente para bancar sozinho uma organização filantrópica, além de contratar um personal trainer em tempo integral e construir um ginásio em sua casa, dinheiro não é o problema. O problema é saber que ainda pode jogar e simplesmente não conseguir executar as jogadas e truques que o consagraram durante tanto tempo, e é por isso que Redd escolheu o Suns ao invés de um contender, mesmo sabendo que seu arremesso apurado poderia fazê-lo participar de uma chance ao titulo, Redd não quer participar, ele quer jogar, ele quer de volta os gritos da torcida, ele quer ser idolatrado.
O próximo jogo é contra o Cleveland Cavaliers e provavelmente marcará a estreia de Michael Redd pelo Phoenix Suns, o jogo será no Arizona e a torcida deve lotar as arquibancadas para ver uma anacronia em quadra, um ídolo do passado que correrá em busca de minutos no presente. Nós do Suns Brasil provavelmente não poderemos estar lá, mas uma certeza fica : a de gritar o nome de Michael Redd a cada cesta, por minímas que sejam, ele merece, porque não há nada mais nobre do que incentivar uma paixão.