A casa brasileira do Phoenix Suns!


Uma Noite em Phoenix

"Há um ano eu estava em Phoenix para realizar um sonho e ver o Suns de perto."

Thiago Pinheiro é torcedor do Suns e realizou o sonho de assistir uma partida no Arizona. Ele escreveu ao SunsBR como foi a experiência: 


Eu sonhava com cada momento. Era estranho, me sentia em casa, mesmo que eu a tivesse explorado durante incontáveis noites - ou melhor, madrugadas - em alguma tela. Mas, mesmo assim, tudo parecia novidade a cada passo. Era se como o que eu via preenchesse as lacunas que existiam na minha mente.

Sim, eu estava em Phoenix, pronto para ver um jogo do meu Suns após mais de 20 anos de espera.


Para começar, ninguém vai para Phoenix. Antes da viagem, que passou também por Memphis, New Orleans e iria me levar depois a Austin, Lubbock, Dallas, Boston e New York, os mais curiosos sempre me questionavam sobre Phoenix (e Lubbock, claro). Quando eu explicava e complementava que, na verdade, a capital do Arizona era o objetivo central da minha jornada, dava para notar alguma confusão.

Era natural. A viagem, feita sozinho, era em busca das minhas influências - musicais e esportivas - e ver o Suns, fruto da minha paixão desde o início da adolescência, era um sonho que eu vinha alimentando desde que você perde o medo de fazer uma viagem internacional. Faça um favor a vocês e parem de gastar dinheiro com coisas que não são importantes: corram para o aeroporto.

O esporte, o ato de torcer, tem relação com a infância/adolescência. É nessa época que formamos os nossos laços com um clube e, normalmente, o levamos até o final das nossas vidas. Alguns cortam; outros o desenvolvem. Sem prolongar nesse assunto, isso explica a reação similar de adolescentes, adultos e idosos em um jogo. Tornamo-nos as crianças que fomos quando em frente ao alvo de nossa paixão. E, caso você perca isso, é sinal de que a relação não vai bem.

Assim, ainda bem antes de tomar o rumo do Aeroporto Galeão, aqui no balneário do Rio de Janeiro, eu digitei nba.com/suns e fui na parte de "tickets". Estava claro, ali, que eu iria viajar. As passagens já estavam compradas, os hotéis reservados e todo o roteiro quase pronto. Mas a compra do ingresso para o jogo do Suns era algo especial: era a prova real de que eu estaria sentado na Talk Stick Resort Arena. Ali, admito, a criança já estava emocionada e não havia o menor sinal do adulto.

Só que o tempo passou e, em novembro de 2015, eu estava em Phoenix, maravilhado, olhando para o trenzinho (aqui, VLT), que eu sempre via nas chamadas para os jogos na Fox Arizona. Antes da viagem, eu olhava para o Google Maps e já me imaginava em um indo para o jogo. Lá eu percebi que era perto demais, era melhor ir à pé mesmo.

E à pé eu fui...

Olha, eu saí cedo. O caminho do hotel para lá era de cerca de 15 minutos, mas ainda faltavam duas horas e meia para o início e eu já estava clicando tudo com o celular na porta da Arena. Na porta, aquela reunião de pessoas tão comuns em estádios aqui no Brasil, onde falamos sobre a vida, expectativas para o jogo e tudo o que passou no jornal local. Mas eu estava lá, estático, imaginando como seria a vida daquelas pessoas de poder ter a chance de, 42 vezes ao ano, algo que eu esperei quase a minha vida toda para fazer. 

Sozinho, você tem vontade de puxar assunto com todo mundo, contar a sua história, agarrar-lhes pela gola e gritar para que eles não percam nenhum jogo, pois cada um é importante. Bem, para eles, não era. Enquanto eu olhava para cada barriquinha do lado de fora, a vida dos habitantes de Phoenix seguia normal entre uma cerveja e outra.

A entrada é imponente. Todos aqueles vidros e luzes dão uma sensação de espetáculo já do lado de fora, enquanto você admira centímetro por centímetro ao entrar. Mas tudo que importa está a partir da porta - e tudo é espetáculo.

Logo na entrada, as dançarinas já distribuem uma sacola com cards e cartelas que são parte de uma espécie de loteria. Melhor ainda que contivesse um papel que dizia que eu fui sorteado e havia ganhado dois ingressos para um jogo contra o Nuggets duas semanas depois - sem chance de assistir.

Logo após as dançarinas, há a loja. Ela é grande, muito grande, do tamanho das nossas expectativas e muito maior que o nosso bolso possa suportar. Você olha as camisas, pergunta por modelos específicos, testa tamanhos, volta e muda de seção, coça a cabeça e faz contas. Vê que não precisa de uma placa de carro com o logo do Suns, mas aquele casaco estilo anos 70 certamente estará na sua sacola. 


Enquanto procuro uma camisa 13 de 2010 com o meu tamanho, o atendente pergunta se eu quero ajuda. Conversa vai, conto a minha história, da vontade de pedir um caminhão para levar todas as coisas que queria, ele fala a sua trajetória e conta que joga basquete na faculdade e espera ser draftado um dia pelo Suns. Falo que torcerei bastante por ele e sigo em frente rumo ao caixa.

E não acabou. Ainda há estandes de companhia de seguros, de outras companhias que nunca ouvi falar e da famosa, para nós, Fox Sports Arizona, que me rendeu uma camisa da emissora. Pronto, acho que agora conseguirei chegar à minha cadeira.

Sim, eu sei que o que valia ali era a experiência de ver o Suns e eu queria que ela fosse completa. Dei um pouco de "azar" e fui ao jogo seguinte da homenagem ao Steve Nash quando ele ganhou o "ring of honor", mas, felizmente, o copo daquela noite especial estava disponível por meros sete dólares. Nem pensei no câmbio para não descobrir que foi a Coca-Cola mais cara da história.

Quero dizer algo: a arena é muito menor do que aparenta pela TV. Você fica com a impressão de algo gigante por causa do plano aberto das câmeras das transmissões, mas, ali, na sua cadeira, é tudo muito menor. E é quando você acha o seu lugar, mesmo faltando um século para o início, é que você entende, de verdade, que você está em um jogo do Suns.

Sozinho, apenas com o som alto e o vai e vem das pessoas, você se pega pensando nas grandes jogadas que você já viu naquela quadra e tenta adivinhar o lado. A memória às vezes não ajuda e bate a dúvida sobre se determinado lance foi fora de casa ou ali mesmo. Bem, não importa. Bledsoe, Chandler e cia haviam entrado para aquecer e fazer os arremessos.

O jogo, acredite, é um detalhe. A experiência de estar ali é mais importante do que qualquer outra coisa. Sem Cousins, o Sacramento Kings foi presa fácil para um Suns que parecia destinado a repetir o bom desempenho do ano anterior. Hoje, sabemos que a temporada foi um desastre, exceto por Devin Booker, certamente o futuro da franquia.

À chegada do final do jogo, uma tristeza. Saber que, em pouco tempo, tudo aquilo acabaria e o ponto alto da minha viagem teria chegado ao fim. Eu desço, ainda maravilhado, e fico observando a movimentação dos jornalistas e de algumas crianças que brincam na quadra. Um funcionário, meio acanhado, está desprevenido e estranha o meu pedido de uma foto - uma selfie não seria suficiente para captar aquele momento. O resultado é a imagem que ilustra estas linhas.

Eu voltei para o meu lugar. Sentei-me e joguei para o Facebook a mesma foto, tentando descrever um pouco da alegria que eu sentia e compartilhá-la com os amigos. Enquanto escrevia, a arena rapidamente ficava vazia. Mas eu estava decidido a aproveitar cada minuto e, se pudesse, repetiria o exemplo do Leandrinho e iria dormir lá no vestiário...

Mas, nada... Rapidamente o segurança me aborda e avisa que é hora de ir. Com a velocidade de um pivô puxando o contra-ataque, arrasto-me pelos degraus e passeio ainda pelos bares internos que estão, em sua maioria, fechando. Ao passar pela porta, ainda há gente animada na praça em frente, embora a rara chuva trate de afastar a maioria rapidamente.

Atravessando a E Jefferson Street, há um Hard Rock. Já devidamente acomodado, pude sorrir e pensar no adolescente que se encantou com aquele time de Charles Barkley e Kevin Johnson. Eu havia cumprido a promessa que havia feito de um dia estar ali. E já estava morrendo de saudades. 








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